Um longo processo para a modernização

      São Paulo, 10 de Setembro de 2002 - A tecnologia foi essencial para que o setor agrícola atingisse níveis de excelência. O aumento da produtividade e da qualidade do setor agropecuário brasileiro ocorreu após um longo processo de transição entre a chamada agricultura de extração para a agricultura de conversão. Enquanto se manteve preso a estruturas e modelos copiados da Europa, a produção agrícola não conseguiu se desenvolver, o que só passou a ocorrer a partir de meados dos anos 70, na medida em que os agricultores começaram a ocupar as grandes áreas de cerrado do Brasil Central.

      A utilização de tecnologia foi fundamental para que a produção agrícola atingisse níveis de excelência e o País liderasse hoje índices de produtividade em diversos produtos como soja, cana-de-açúcar e café.

      O chamado plantio direto, técnica em que o cultivo é feito diretamente na palha, ou seja nos restos da safra anterior, sem a necessidade de revolver a terra, é um exemplo de avanço. Hoje o plantio direto atinge cerca de 50% da área das culturas anuais - soja, milho, trigo, arroz, algodão etc. Segundo o fazendeiro e líder rural Luiz Hafers, arar a terra é uma prática necessária na Europa para absorver calor. Com o clima quente do Brasil, o ideal é proteger ao máximo o solo da ação dos raios solares. "Arar aqui deveria ser uma prática excepcional."

      A agricultura de extração foi praticada nas zonas férteis do Sul, Leste e até Centro-Oeste em lavouras como café, algodão, grãos e pecuária. Tais terras, segundo Hafers, "esgotaram" sua fertilidade e a produção exigiu uma solução tecnológica que culminou na agricultura de conversão, com a mudança para o cerrado, onde imperam as altas temperaturas, topografia invejável, chuvas regulares e a possibilidade de irrigação em áreas onde os índices pluviométricos são menores. "O Brasil pode dobrar e até triplicar a produção em prazo curto desde que haja demanda."

      Nos últimos doze anos a safra agrícola aumentou 70% praticamente sem alterar a área, num "enorme avanço de eficiência de produtividade e de competência", diz o produtor. A colheita neste ano atingiu 98,4 milhões de toneladas, em relação aos 58,2 milhões de toneladas da safra 1989/90, enquanto a área manteve-se estável em 39 milhões de hectares.

      Para o presidente da Sociedade Rural Brasileira, João de Almeida Sampaio Filho, a evolução tecnológica permitiu à agricultura brasileira obter o melhor rendimento mundial em soja, "com produtividade média de 2,6 mil quilos por hectare, a mesma obtida nos Estados Unidos", diz.

      Os empresários rurais de hoje têm maior independência em relação à obtenção de recursos para o plantio. Se até meados da década de 80, o crédito rural era farto e barato, a situação mudou a partir dos anos 90 com o governo Collor. Hoje, os juros subsidiados do crédito rural são destinados basicamente aos agricultores de menor porte e que têm no mercado interno seu foco de atuação. As culturas voltadas à exportação e que são feitas em grande maioria por grandes produtores têm limitação em relação ao crédito rural oficial. A ausência foi compensada pela parceria com as indústrias de esmagamento e insumos e novos instrumentos de política, que permitem o autofinanciamento. É o caso das Cédulas de Produto Rural (CPRs) e contratos de opção, que permitem ao agricultor vender antecipadamente sua produção.

      Se a melhoria da produtividade pôde ser compensada para as safras anuais, o mesmo também é obtido com as lavouras perenes, como cana, café e laranja.

      No caso da cana-de-açúcar, o setor sempre investiu na melhoria de variedades - desenvolvidas basicamente pela maior cooperativa do Brasil, a Copersucar, com 34 usinas de açúcar e álcool no Centro-Sul do Brasil - e teve ótima produtividade. Mas sem a tutela governamental, a partir de 1995, é que o setor se consolidou, profissionalizando as empresas e aumentando as exportações de açúcar e de álcool. Os custos de produção de açúcar no Brasil, maior exportador mundial, oscilam em US$ 180 por tonelada, a metade em relação à Austrália, de US$ 335 por tonelada, países que usam a cana como matéria-prima. Na Europa, o custo de produção atinge até US$ 700 por tonelada, com a matéria-prima à base de beterraba. Em São Paulo, maior produtor mundial, o custo de produção é ainda menor, de US$ 165 por tonelada, diante do uso de maior tecnologia.

      O exemplo também serve para o café. Após anos de "proteção" do Instituto Brasileiro de Café (IBC), os cafeicultores passaram a investir mais em produtividade. A saída do governo significou o fim dos tabelamentos e permitiu ao cafeicultor ter a oportunidade de melhorar a qualidade das lavouras uma vez que a indústria de torrefação passou a oferecer produtos diferenciados. Se a maior produção está concentrada no sul de Minas Gerais, novas regiões cafeeiras ganharam corpo.

      Nos anos 80, proliferaram novas áreas no cerrado mineiro e mais recentemente em Barreiras, no cerrado baiano, nos anos 90. Em áreas que permitem a mecanização, as lavouras cafeeiras atingem produtividade média de até 60 sacas por hectare enquanto a média brasileira é de 16 sacas.
 

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