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WebFolio Prof. Jorge Aguiar
A ANTIGUIDADE ORIENTAL

A ECONOMIA:

A atividade econômica básica da maioria dos povos da Antiguidade Oriental era a agricultura. As primeiras civilizações, como já se notou, surgiram exatamente nas regiões em que a fertilização do solo permitia a fixação humana e o surgimento das cidades.
O cultivo visava inicialmente abastecer a população. Num segundo momento, produziu-se para uma economia de troca. Cereais, legumes, frutas, algodão e linho eram os produtos mais cultivados. Paralelamente à agricultura, a atividade pecuária também era praticada, com a criação de bois, cavalos, cabras, porcos e aves.
Devido à posição geográfica, alguns povos tornaram-se importantes intermediários entre os vários impérios, ocupando lugar de destaque nas trocas comerciais. É o caso dos hebreus, dos mesopotâmicos e dos persas.
Na maioria das vezes, utilizava-se o sistema de troca direta. No entanto, já a partir do século VII a.C., em algumas regiões, cunhavam-se moedas de ouro e prata que, disseminadas pelos fenícios, em pouco tempo transformaram-se no padrão de troca. Atribui-se a invenção da moeda ao povo lídio, da Ásia Menor.
A atividade artesanal era controlada pelo Estado na maioria das regiões. Eram produzidos tecidos, azeite, vidros, cerâmicas, jóias. Normalmente, ao lado da produção estatal, havia o artesanato doméstico, voltado para a produção de objetos de uso pessoal. A construção de navios e a extração de minérios e de madeira eram também atividades sob o controle do Estado.
O setor de transportes evoluiu consideravelmente, com a abertura de estradas, principalmente pelos persas. Utilizavam-se o cavalo e o camelo como meio de transporte e, em poucos casos, escravos. Já no setor de transportes marítimos e fluviais, o desenvolvimento foi mais acentuado.
O aspecto talvez mais significativo a ser considerado, quando se analisa a vida econômica dos povos orientais, é o papel do Estado. Sua presença era notada em todos os setores da economia. Também na agricultura isso podia ser observado, pois, de um modo geral, todas as terras pertenciam aos reis e aos sacerdotes.


A SOCIEDADE:

O núcleo básico das sociedades do Antigo Oriente era a família patriarcal. Nessa família, o homem mais velho (patriarca) exercia funções muito amplas. Era considerado chefe, juiz e sacerdote, e mantinha absoluto domínio sobre todos os indivíduos que o rodeavam.
Apesar de todas as especificidades próprias, podemos generalizar a divisão social das sociedades da Antiguidade Oriental em três grupos fundamentais: o grupo mais elevado na escala social era composto pela família real, os nobres, os sacerdotes, os funcionários da burocracia estatal; o intermediário constituía-se de funcionários, artesãos, comerciantes, camponeses; finalmente, na base, a maioria, composta por servos e escravos.
O sistema de castas da Índia constituía uma exceção. Castas são grupos sociais fechados, sem a menor possibilidade de alteração do status social. Eram quatro as castas: os brâmanes – ou sacerdotes –, encarregados do culto e da preservação do saber, exerciam uma espécie de tutela sobre os demais grupos; os chátrias ou nobres, que se dedicavam às atividades militares, judiciais e governamentais; os vaicias, grupo composto por comerciantes, artesãos e agricultores; e os sudras, considerados elementos inferiores, encarregavam-se de servir os membros dos outros grupos. Havia, ainda, um grupo marginalizado, composto de párias. O pária (impuro) era um indivíduo nascido de uma união, considerada ilegal, entre indivíduos de diferentes castas, que não podia se incorporar nem à casta do pai, nem à da mãe.


A VIDA POLÍTICA:

Dois importantes estudiosos das doutrinas e instituições políticas, analisando as formas políticas já identificadas da Antiguidade Oriental, afirmaram:

É evidente que nos grandes impérios orientais não era mais possível conservar as antigas instituições políticas da tribo e da cidade. O Estado era demasiado vasto para que pudesse reunir e funcionar a assembléia de todos os cidadãos; mesmo o conselho dos anciãos, que o rei consultava regularmente, desapareceu. Isto não impedia que aqueles que ocupavam postos elevados, assim como os cortesãos e as grandes famílias, exercessem uma certa influencia (teoricamente, o poder do rei era absoluto; ele o era também, realmente, quando o soberano era inteligente e enérgico); sua autoridade tinha fundamento religioso, porque ele interpretava a vontade do Deus nacional que estendia sua proteção especial sobre o povo por ele governado.
(MOSCA. G. e BOUTHOUL, G. História das doutrinas políticas. 3. ed. São Paulo: Difel, 1981. p. 20.)

Os autores nos apresentam importantes características da vida política das sociedades da Antiguidade Oriental: o caráter absoluto e teocrático do poder. De fato, as instituições políticas orientais eram profundamente influenciadas pela religião e constituíam, para alguns autores, autênticas teocracias. Em quase todas as sociedades, o governante era considerado uma divindade ou um filho de um deus.
No Egito, o faraó era inicialmente considerado como o filho do deus Hórus e posteriormente o filho do deus-Sol, Rá. Para os egípcios, o faraó era o soberano todo-poderoso, objeto de culto que concentrava em si os poderes político e espiritual.
Entre os mesopotâmicos, o rei era o sacerdote de Anu, o deus do céu; na Pérsia, era o representante de Ahura-Mazda, o grande deus; na China, era o filho do céu. Entre os hebreus e os hindus, a influência dos sacerdotes sobre os governantes era ampla.
O caráter absoluto do poder, designado de despótico por alguns autores, pode ser mais bem compreendido quando se sabe que existia uma forte ligação entre governo e religião (o rei aparecia legitimado por sua origem divina). De fato, ao basear seu poder na religião, os soberanos passaram a não conhecer limitações à sua atuação. É bem verdade que havia exceções a esse quadro, como a Fenícia, por exemplo, em cuja vida política comerciantes bastante prósperos chegaram a influir poderosamente.
Havia uma grande preocupação com os aspectos administrativos, o que pode ser observado no Império Persa. Uma complexa máquina burocrática foi criada para permitir uma correta administração. Coletores de impostos, fiscais, mensageiros, governadores, escrivães, juízes eram alguns dos membros dessa burocracia. Os governos orientais criaram ainda serviços de correio, arquivos e estatísticas.
É bom lembrar, no entanto, que, em muitas ocasiões, os governadores das províncias assumiam o poder com tanta firmeza que chegavam a desafiar a autoridade central. Há muitos registros de conflitos envolvendo tais funcionários e os governantes centrais, particularmente no Egito e na Mesopotâmia.


A VIDA RELIGIOSA:

A religião tinha grande importância para os povos orientais. Isso é particularmente visível nos planos político e artístico.
Com poucas exceções, as sociedades orientais possuíam religiões do tipo politeísta e antropozoomórfica, o que significa que cultuavam vários deuses, os quais tinham formas humanas e/ou de animais. As exceções a esse quadro são fornecidas pelos povos hebreu, persa e hindu, como veremos a seguir.
Praticamente, todos os fenômenos da natureza eram explicados em função da intervenção divina, tanto para o bem quanto para o mal. Os deuses eram quase sempre específicos de um determinado povo.
No Egito, houve uma tentativa de eliminar o politeísmo, realizada pelo faraó Amenófis IV (1.370 a.C. a 1.352 a.C.). Na verdade, o objetivo maior do faraó era acabar com a influência da classe sacerdotal. Determinou a crença em apenas um deus, Aton (o Sol), mas as resistências foram muitas, e a tentativa fracassou.
As religiões dos persas e dos hebreus apresentavam características distintas, quando comparadas às das demais sociedades da Antiguidade Oriental. A dos hebreus, por exemplo, constituía uma religião revelada por deus, tido como criador do mundo e de tudo o que há nele (de acordo com o Antigo Testamento da Bíblia), a um líder, que se encarregaria de transmiti-la ao povo. Javé, único deus hebreu, teria se revelado a Abraão. Já na Pérsia, a princípio, admitia-se a existência de dois deuses antagônicos, Ormuz, deus do bem, e Ariman, deus do mal. No século VI a.C., o reformador religioso Zoroastro implantou o monoteísmo: Ahura-Mazda (Ormuz) passou a ser o único deus.
À semelhança dos povos politeístas, também os persas e hebreus acreditavam na imortalidade da alma e, ao contrário daqueles, não permitiam a representação dos deuses por meio de imagens.
A Índia também mostra um quadro diferente. Com efeito, lá podemos constatar uma evolução do politeísmo das religiões antigas, o vedismo e o bramanismo, para o ateísmo do budismo (o budismo não reconhece nenhum deus criador, detentor de todo conhecimento e poder).
O vedismo pregava a existência de numerosas divindades e a vida além-túmulo. De sua evolução, resultou o bramanismo, que estabelecia a transmigração das almas. Brama era o espírito universal, absoluto, do qual tudo procede e ao qual tudo retornará.
No século V a.C., Sidarta Gautama, filho de um príncipe nepalês, após romper com as convenções sociais e meditar até tornar-se um Buda (em sânscrito, o “iluminado”), deu início à pregação das novas verdades, que se consubstanciaram no budismo. Partia-se do princípio de que tudo o que existe são a dor e o sofrimento; e o mal supremo é ter consciência disso. Assim, o fim da dor está na libertação da mente, através do esmagamento do desejo por meio da retidão de comportamento. E a busca do nirvana, estado de plenitude espiritual e de superação das limitações mundanas, que se atinge após a morte, ou em vida, quando cessam todas as dores.


ARTE, LITERATURA E CIÊNCIA:

Também na produção artística e literária das sociedades do Antigo Oriente, podemos perceber, com clareza, a influência da religião.
A religião constituía a base da maioria das grandes obras literárias que chegaram até nós. Assinalam-se, como exemplos significativos, a Bíblia hebraica, os Vedas indianos e, na Pérsia, o Zend-Avesta. Eram livros destinados a difundir a doutrina religiosa. A Epopéia, de Gilgamesh, na Mesopotâmia, o Livro dos Mortos, dos egípcios, o Maabárata na India, o Y-King e o Tao-te-King dos chineses também podem ser apresentados como de caráter religioso. Utilizava-se tanto a prosa quanto o verso.
No terreno das artes, a influência religiosa também é visível. A manifestação artística de maior destaque era a Arquitetura; pode-se perceber que a Escultura e a Pintura eram consideradas como complementares daquela. Os povos do Antigo Oriente utilizaram materiais bastante resistentes como os blocos de pedra em suas edificações, especialmente templos, túmulos e palácios. A grandiosidade dessas construções pode ser avaliada pelas ruínas ainda hoje existentes.
Muitas dessas obras pereceram, mas outras, como as pirâmides, aí estão, desafiando os séculos.
Podemos citar como exemplos da Arquitetura oriental: as pirâmides e os templos egípcios; os zigurates, templos religiosos dos mesopotâmicos; os palácios reais persas; a grande muralha chinesa; o templo de Jerusalém, construído pelos fenícios.
A Escultura, apesar de complementar as obras arquitetônicas, apresenta um caráter monumental. As estátuas dos faraós e de deuses egípcios, leões e touros alados na Mesopotâmia, as estátuas de Buda na Índia, os trabalhos chineses de bronze, principalmente cavalos, os baixos-relevos persas são, entre muitos, exemplos do alto senso estético dos artistas orientais.
A Pintura, mesmo sendo considerada um complemento da Arquitetura, teve um desenvolvimento à parte, registrando características das maneiras de viver e de pensar das civilizações orientais. Faltava-lhe, no entanto, a técnica da perspectiva. Nas pinturas egípcias, por exemplo, seres humanos eram representados de acordo com o que os estudiosos denominaram de “lei da frontalidade”, isto é, o tronco era pintado de frente, enquanto o rosto e os pés eram pintados de perfil.
Na produção científica, destacam-se os conhecimentos astronômicos, matemáticos e medicinais.
Na Astronomia, a civilização que mais se destacou foi a mesopotâmica. Cálculo de eclipses, calendário, identificação de astros e estrelas, relógio de sol e clepsidra (relógio que indica o tempo pelo escoamento de certa quantidade de água) mostram os resultados de muitas pesquisas e estudos. Muitas vezes, a astrologia desenvolveu-se paralelamente à Astronomia.
Na Matemática, a contribuição oriental foi significativa: o sistema sexagesimal, base da Geometria, medidas de áreas e volumes foram elaborados por egípcios e mesopotâmicos; cálculo do valor de p, feito pelos hindus e chineses; invenção dos algarismos ditos “arábicos”, pelos hindus; o sistema decimal, criado pelos egípcios.
Na Medicina, encontramos realizações realmente admiráveis, como o uso de plantas medicinais, cirurgias, diagnósticos vários e o desenvolvimento da acupuntura. Os egípcios desenvolveram a técnica da mumificação dos corpos, importante elemento da religião egípcia. A mumificação devia-se à crença no retorno da alma ao corpo.
As ciências humanas não apresentaram o mesmo desenvolvimento, com exceção do Direito. Entre os mesopotâmicos, há notícias de códigos de leis anteriores a 2 000 a.C. O mais famoso código de leis da Antiguidade é o de Hamurábi, rei babilônico; entre os hebreus, o Decálogo, atribuído a Moisés.
No campo da escrita, atribui-se aos mesopotâmicos a criação de sua forma mais antiga: a escrita cuneiforme. Eram caracteres em forma de cunha, gravados com um instrumento similar a um estilete em tabuletas de argila. No Egito Antigo, havia um sistema de escrita por meio de imagens, denominado escrita hieroglífica. Os hieróglifos eram utilizados em inscrições oficiais e religiosas. Havia também a escrita hierática, mais simples que a hieroglífica, e a demótica, a mais popular. Os hieróglifos eram utilizados, também, para narrar cenas da vida cotidiana nas paredes de câmaras sepulcrais.
A criação do alfabeto foi o maior legado dos fenícios, mas, na realidade, o que eles fizeram foi selecionar e adaptar vinte e dois símbolos da escrita demótica egípcia, representativos de sons e letras. Mais tarde esse alfabeto foi aperfeiçoado pelos gregos, que criaram as vogais, e posterior-mente pelos romanos. A partir daí, a escrita tornou-se mais dinâmica, permitindo uma difusão rápida das idéias e dos acontecimentos.

SINFE 2005