A
ECONOMIA:
A
atividade econômica básica da maioria dos povos da Antiguidade
Oriental era a agricultura. As primeiras civilizações,
como já se notou, surgiram exatamente nas regiões em que
a fertilização do solo permitia a fixação
humana e o surgimento das cidades.
O cultivo visava inicialmente abastecer a população. Num
segundo momento, produziu-se para uma economia de troca. Cereais, legumes,
frutas, algodão e linho eram os produtos mais cultivados. Paralelamente
à agricultura, a atividade pecuária também era
praticada, com a criação de bois, cavalos, cabras, porcos
e aves.
Devido à posição geográfica, alguns povos
tornaram-se importantes intermediários entre os vários
impérios, ocupando lugar de destaque nas trocas comerciais. É
o caso dos hebreus, dos mesopotâmicos e dos persas.
Na maioria das vezes, utilizava-se o sistema de troca direta. No entanto,
já a partir do século VII a.C., em algumas regiões,
cunhavam-se moedas de ouro e prata que, disseminadas pelos fenícios,
em pouco tempo transformaram-se no padrão de troca. Atribui-se
a invenção da moeda ao povo lídio, da Ásia
Menor.
A atividade artesanal era controlada pelo Estado na maioria das regiões.
Eram produzidos tecidos, azeite, vidros, cerâmicas, jóias.
Normalmente, ao lado da produção estatal, havia o artesanato
doméstico, voltado para a produção de objetos de
uso pessoal. A construção de navios e a extração
de minérios e de madeira eram também atividades sob o
controle do Estado.
O setor de transportes evoluiu consideravelmente, com a abertura de
estradas, principalmente pelos persas. Utilizavam-se o cavalo e o camelo
como meio de transporte e, em poucos casos, escravos. Já no setor
de transportes marítimos e fluviais, o desenvolvimento foi mais
acentuado.
O aspecto talvez mais significativo a ser considerado, quando se analisa
a vida econômica dos povos orientais, é o papel do Estado.
Sua presença era notada em todos os setores da economia. Também
na agricultura isso podia ser observado, pois, de um modo geral, todas
as terras pertenciam aos reis e aos sacerdotes.
A SOCIEDADE:
O
núcleo básico das sociedades do Antigo Oriente era a família
patriarcal. Nessa família, o homem mais velho (patriarca) exercia
funções muito amplas. Era considerado chefe, juiz e sacerdote,
e mantinha absoluto domínio sobre todos os indivíduos
que o rodeavam.
Apesar de todas as especificidades próprias, podemos generalizar
a divisão social das sociedades da Antiguidade Oriental em três
grupos fundamentais: o grupo mais elevado na escala social era composto
pela família real, os nobres, os sacerdotes, os funcionários
da burocracia estatal; o intermediário constituía-se de
funcionários, artesãos, comerciantes, camponeses; finalmente,
na base, a maioria, composta por servos e escravos.
O sistema de castas da Índia constituía uma exceção.
Castas são grupos sociais fechados, sem a menor possibilidade
de alteração do status social. Eram quatro as castas:
os brâmanes – ou sacerdotes –, encarregados do culto
e da preservação do saber, exerciam uma espécie
de tutela sobre os demais grupos; os chátrias ou nobres, que
se dedicavam às atividades militares, judiciais e governamentais;
os vaicias, grupo composto por comerciantes, artesãos e agricultores;
e os sudras, considerados elementos inferiores, encarregavam-se de servir
os membros dos outros grupos. Havia, ainda, um grupo marginalizado,
composto de párias. O pária (impuro) era um indivíduo
nascido de uma união, considerada ilegal, entre indivíduos
de diferentes castas, que não podia se incorporar nem à
casta do pai, nem à da mãe.
A VIDA POLÍTICA:
Dois importantes estudiosos das
doutrinas e instituições políticas, analisando
as formas políticas já identificadas da Antiguidade Oriental,
afirmaram:
É evidente que nos grandes impérios
orientais não era mais possível conservar as antigas instituições
políticas da tribo e da cidade. O Estado era demasiado vasto
para que pudesse reunir e funcionar a assembléia de todos os
cidadãos; mesmo o conselho dos anciãos, que o rei consultava
regularmente, desapareceu. Isto não impedia que aqueles que ocupavam
postos elevados, assim como os cortesãos e as grandes famílias,
exercessem uma certa influencia (teoricamente, o poder do rei era absoluto;
ele o era também, realmente, quando o soberano era inteligente
e enérgico); sua autoridade tinha fundamento religioso, porque
ele interpretava a vontade do Deus nacional que estendia sua proteção
especial sobre o povo por ele governado.
(MOSCA. G. e BOUTHOUL, G. História das doutrinas políticas.
3. ed. São Paulo: Difel, 1981. p. 20.)
Os autores nos apresentam importantes características
da vida política das sociedades da Antiguidade Oriental: o caráter
absoluto e teocrático do poder. De fato, as instituições
políticas orientais eram profundamente influenciadas pela religião
e constituíam, para alguns autores, autênticas teocracias.
Em quase todas as sociedades, o governante era considerado uma divindade
ou um filho de um deus.
No Egito, o faraó era inicialmente considerado como o filho do
deus Hórus e posteriormente o filho do deus-Sol, Rá. Para
os egípcios, o faraó era o soberano todo-poderoso, objeto
de culto que concentrava em si os poderes político e espiritual.
Entre os mesopotâmicos, o rei era o sacerdote de Anu, o deus do
céu; na Pérsia, era o representante de Ahura-Mazda, o
grande deus; na China, era o filho do céu. Entre os hebreus e
os hindus, a influência dos sacerdotes sobre os governantes era
ampla.
O caráter absoluto do poder, designado de despótico por
alguns autores, pode ser mais bem compreendido quando se sabe que existia
uma forte ligação entre governo e religião (o rei
aparecia legitimado por sua origem divina). De fato, ao basear seu poder
na religião, os soberanos passaram a não conhecer limitações
à sua atuação. É bem verdade que havia exceções
a esse quadro, como a Fenícia, por exemplo, em cuja vida política
comerciantes bastante prósperos chegaram a influir poderosamente.
Havia uma grande preocupação com os aspectos administrativos,
o que pode ser observado no Império Persa. Uma complexa máquina
burocrática foi criada para permitir uma correta administração.
Coletores de impostos, fiscais, mensageiros, governadores, escrivães,
juízes eram alguns dos membros dessa burocracia. Os governos
orientais criaram ainda serviços de correio, arquivos e estatísticas.
É bom lembrar, no entanto, que, em muitas ocasiões, os
governadores das províncias assumiam o poder com tanta firmeza
que chegavam a desafiar a autoridade central. Há muitos registros
de conflitos envolvendo tais funcionários e os governantes centrais,
particularmente no Egito e na Mesopotâmia.
A VIDA RELIGIOSA:
A religião tinha grande importância
para os povos orientais. Isso é particularmente visível
nos planos político e artístico.
Com poucas exceções, as sociedades orientais possuíam
religiões do tipo politeísta e antropozoomórfica,
o que significa que cultuavam vários deuses, os quais tinham
formas humanas e/ou de animais. As exceções a esse quadro
são fornecidas pelos povos hebreu, persa e hindu, como veremos
a seguir.
Praticamente, todos os fenômenos da natureza eram explicados em
função da intervenção divina, tanto para
o bem quanto para o mal. Os deuses eram quase sempre específicos
de um determinado povo.
No Egito, houve uma tentativa de eliminar o politeísmo, realizada
pelo faraó Amenófis IV (1.370 a.C. a 1.352 a.C.). Na verdade,
o objetivo maior do faraó era acabar com a influência da
classe sacerdotal. Determinou a crença em apenas um deus, Aton
(o Sol), mas as resistências foram muitas, e a tentativa fracassou.
As religiões dos persas e dos hebreus apresentavam características
distintas, quando comparadas às das demais sociedades da Antiguidade
Oriental. A dos hebreus, por exemplo, constituía uma religião
revelada por deus, tido como criador do mundo e de tudo o que há
nele (de acordo com o Antigo Testamento da Bíblia), a um líder,
que se encarregaria de transmiti-la ao povo. Javé, único
deus hebreu, teria se revelado a Abraão. Já na Pérsia,
a princípio, admitia-se a existência de dois deuses antagônicos,
Ormuz, deus do bem, e Ariman, deus do mal. No século VI a.C.,
o reformador religioso Zoroastro implantou o monoteísmo: Ahura-Mazda
(Ormuz) passou a ser o único deus.
À semelhança dos povos politeístas, também
os persas e hebreus acreditavam na imortalidade da alma e, ao contrário
daqueles, não permitiam a representação dos deuses
por meio de imagens.
A Índia também mostra um quadro diferente. Com efeito,
lá podemos constatar uma evolução do politeísmo
das religiões antigas, o vedismo e o bramanismo, para o ateísmo
do budismo (o budismo não reconhece nenhum deus criador, detentor
de todo conhecimento e poder).
O vedismo pregava a existência de numerosas divindades e a vida
além-túmulo. De sua evolução, resultou o
bramanismo, que estabelecia a transmigração das almas.
Brama era o espírito universal, absoluto, do qual tudo procede
e ao qual tudo retornará.
No século V a.C., Sidarta Gautama, filho de um príncipe
nepalês, após romper com as convenções sociais
e meditar até tornar-se um Buda (em sânscrito, o “iluminado”),
deu início à pregação das novas verdades,
que se consubstanciaram no budismo. Partia-se do princípio de
que tudo o que existe são a dor e o sofrimento; e o mal supremo
é ter consciência disso. Assim, o fim da dor está
na libertação da mente, através do esmagamento
do desejo por meio da retidão de comportamento. E a busca do
nirvana, estado de plenitude espiritual e de superação
das limitações mundanas, que se atinge após a morte,
ou em vida, quando cessam todas as dores.
ARTE, LITERATURA E CIÊNCIA:
Também na produção artística
e literária das sociedades do Antigo Oriente, podemos perceber,
com clareza, a influência da religião.
A religião constituía a base da maioria das grandes obras
literárias que chegaram até nós. Assinalam-se,
como exemplos significativos, a Bíblia hebraica, os Vedas indianos
e, na Pérsia, o Zend-Avesta. Eram livros destinados a difundir
a doutrina religiosa. A Epopéia, de Gilgamesh, na Mesopotâmia,
o Livro dos Mortos, dos egípcios, o Maabárata na India,
o Y-King e o Tao-te-King dos chineses também podem ser apresentados
como de caráter religioso. Utilizava-se tanto a prosa quanto
o verso.
No terreno das artes, a influência religiosa também é
visível. A manifestação artística de maior
destaque era a Arquitetura; pode-se perceber que a Escultura e a Pintura
eram consideradas como complementares daquela. Os povos do Antigo Oriente
utilizaram materiais bastante resistentes como os blocos de pedra em
suas edificações, especialmente templos, túmulos
e palácios. A grandiosidade dessas construções
pode ser avaliada pelas ruínas ainda hoje existentes.
Muitas dessas obras pereceram, mas outras, como as pirâmides,
aí estão, desafiando os séculos.
Podemos citar como exemplos da Arquitetura oriental: as pirâmides
e os templos egípcios; os zigurates, templos religiosos dos mesopotâmicos;
os palácios reais persas; a grande muralha chinesa; o templo
de Jerusalém, construído pelos fenícios.
A Escultura, apesar de complementar as obras arquitetônicas, apresenta
um caráter monumental. As estátuas dos faraós e
de deuses egípcios, leões e touros alados na Mesopotâmia,
as estátuas de Buda na Índia, os trabalhos chineses de
bronze, principalmente cavalos, os baixos-relevos persas são,
entre muitos, exemplos do alto senso estético dos artistas orientais.
A Pintura, mesmo sendo considerada um complemento da Arquitetura, teve
um desenvolvimento à parte, registrando características
das maneiras de viver e de pensar das civilizações orientais.
Faltava-lhe, no entanto, a técnica da perspectiva. Nas pinturas
egípcias, por exemplo, seres humanos eram representados de acordo
com o que os estudiosos denominaram de “lei da frontalidade”,
isto é, o tronco era pintado de frente, enquanto o rosto e os
pés eram pintados de perfil.
Na produção científica, destacam-se os conhecimentos
astronômicos, matemáticos e medicinais.
Na Astronomia, a civilização que mais se destacou foi
a mesopotâmica. Cálculo de eclipses, calendário,
identificação de astros e estrelas, relógio de
sol e clepsidra (relógio que indica o tempo pelo escoamento de
certa quantidade de água) mostram os resultados de muitas pesquisas
e estudos. Muitas vezes, a astrologia desenvolveu-se paralelamente à
Astronomia.
Na Matemática, a contribuição oriental foi significativa:
o sistema sexagesimal, base da Geometria, medidas de áreas e
volumes foram elaborados por egípcios e mesopotâmicos;
cálculo do valor de p, feito pelos hindus e chineses; invenção
dos algarismos ditos “arábicos”, pelos hindus; o
sistema decimal, criado pelos egípcios.
Na Medicina, encontramos realizações realmente admiráveis,
como o uso de plantas medicinais, cirurgias, diagnósticos vários
e o desenvolvimento da acupuntura. Os egípcios desenvolveram
a técnica da mumificação dos corpos, importante
elemento da religião egípcia. A mumificação
devia-se à crença no retorno da alma ao corpo.
As ciências humanas não apresentaram o mesmo desenvolvimento,
com exceção do Direito. Entre os mesopotâmicos,
há notícias de códigos de leis anteriores a 2 000
a.C. O mais famoso código de leis da Antiguidade é o de
Hamurábi, rei babilônico; entre os hebreus, o Decálogo,
atribuído a Moisés.
No campo da escrita, atribui-se aos mesopotâmicos a criação
de sua forma mais antiga: a escrita cuneiforme. Eram caracteres em forma
de cunha, gravados com um instrumento similar a um estilete em tabuletas
de argila. No Egito Antigo, havia um sistema de escrita por meio de
imagens, denominado escrita hieroglífica. Os hieróglifos
eram utilizados em inscrições oficiais e religiosas. Havia
também a escrita hierática, mais simples que a hieroglífica,
e a demótica, a mais popular. Os hieróglifos eram utilizados,
também, para narrar cenas da vida cotidiana nas paredes de câmaras
sepulcrais.
A criação do alfabeto foi o maior legado dos fenícios,
mas, na realidade, o que eles fizeram foi selecionar e adaptar vinte
e dois símbolos da escrita demótica egípcia, representativos
de sons e letras. Mais tarde esse alfabeto foi aperfeiçoado pelos
gregos, que criaram as vogais, e posterior-mente pelos romanos. A partir
daí, a escrita tornou-se mais dinâmica, permitindo uma
difusão rápida das idéias e dos acontecimentos.
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